interrompemos nossa programação…

Quando escrevi esse post sobre o dilema de continuar escrevendo no Astronauta, não pensei que seria uma grande novidade, já que já faz tempo que não invisto a mesma energia com o blog, e isso se nota. Mas os comentários desse post, (thanks!  vocês são incríveis!) e o auto desafio (que não tá dando pra seguir as regras, mas tá rolando…) me ajudaram a refrescar a memória e entender o porque eu tenho um blog. Talvez depois escreva sobre isso também, mas hoje queria contar outra coisa boa que veio a partir desse post… uma troca de e-mails e um bate papo gostoso com a Mari do muitosecreto, que acabou virando um convite pra ser a VIP dos 120, (porque pra toda exceção tem uma regra e vice-versa) que ela aceitou, e escreveu esse post adorável que com certeza mais de uma mãe-blogueira se sentirá identificada.

Enjoy!

E passa lá pra conhecer o MUITOSECRETO que vale muito a pena.

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Eu escrevi muitos diários na adolescência. Não eram agendas, cheias de clips, ingresso de cinema e papel de chiclete. Não. Eram pequenos cadernos, de 15X20cm, pautados. A escolha do diário na papelaria era demorada, curtida, cheia de dúvidas e encantamentos. Lembro-me do quanto considerava especial as primeiras palavras lançadas na folha em branco. Meus diários tinham nome. E eu conversava com eles durante os meses que levavam até que suas 90 páginas estivessem completamente tomadas pelas minhas letras. Não trocava canetinha, não colava selinhos. Eram só as minhas palavras, contando dia após dia o que acontecia da minha vida de adolescente.

Houve uma vez, em uma viagem de verão para Florianópolis, eu tinha13 anos, que minha irmã e minha prima tomaram o diário escondidas. Desesperada, recorri à minha mãe que, furiosa, baixou uma ordem: se alguém ler o diário da Mariana, vai se ver comigo. Foi assim que ficou assegurada a minha liberdade de escrever o que quisesse. Eu gostava de escrever. Sempre gostei. Eu contava para o diário. E contava tudo. Não tinha segredos. E quantas histórias…! Tudo sempre acontecia durante as férias, quando eu interagia com o mundo sem carregar os rótulos que naturalmente recebera no colégio, onde estudei dos 6 aos 17 anos. Não que fossem rótulos ruins, mas por alguma razão, ou várias, nunca consegui viver no colégio as aventuras que vivia nas férias. Quando recomeçavam as aulas, minhas amigas se reuniam ao meu redor, pra ouvir as histórias que eu tinha escrito no diário. Às vezes, eu as deixava lendo sozinhas, como se fosse um livro, sob a condição de que respeitassem os alertas TOP SECRET no topo da página. Quando apareciam, eu tinha que previamente avaliar se aquele segredo podia ser lido ou não. Foram anos de diário, e foram muitos diários. O último foi no ano de 2001. Era menorzinho. De bolso. Tanto sofrimento por amor… Meu último diário é praticamente um livro de poesia. Parte dele foi inteira transcrita e depois entregue ao seu destinatário, um menino lindo, alto, doce.

Sobre tudo isso eu pensei quando decidi começar o meu blog. Se quero apenas escrever, registrar essa fase da minha vida e da vida da minha filha, por que não faço um diário? Por que torná-lo público? Acessível a desconhecidos? Por que expor minha intimidade e da minha filha? Qual o significado dessas relações virtuais? Por que as pessoas perdem tempo conversando com estranhos quando poderiam estar se dedicando às relações reais?

Por outro lado, a blogosfera materna começava a me conquistar e eu devorava blogs como se fossem livros, e participava da vida daquelas mães desconhecidas, que então, meu deus!, é claro que já não eram virtuais, eu sabia tudo da vida delas, eu torcia por elas, eu ria e chorava com elas, eu sentia falta de notícias quando deixavam de postar. E mais: naquele momento, eu me identificava muito mais com as mães blogueiras do que com as minhas próprias amigas, ainda sem filhos.

O que me convenceu mesmo foi a imperiosidade de pertencer ao meu tempo, à minha geração. Era preciso experimentar o novo.

Descobri muitas coisas, boas e ruins, sobre a blogosfera e sobre blogar. Hoje não estou com vontade de falar sobre as ruins.

Sabem? Quando eu escrevia meus diários, sempre pensava que no futuro eu fosse querer ler tudo aquilo. Preciso confessar que uns anos depois, eu ainda era bem jovem, abri uns deles e fiquei um pouco desapontada… Nossa! Como eu era bobinha. Ainda assim, tenho todos guardados. E acredito que o distanciamento no tempo pode desencantar alguns segredos sobre mim mesma, quando for o momento de reencontrar aquela adolescente que um dia vai estar perto de se despedir dessa vida. Tenho a mesma fantasia quanto ao meu blog. Com a diferença de que é minha filha que imagino lendo o MUITOSECRETO e, então, descobrindo, se não a história dela, ao menos a mãe que contava a sua história. Porque acima de tudo, a melhor coisa do blog, é que o compromisso da escrita, selado com pessoas, em tese, virtuais, faz com que – mesmo ali, na fase crítica entre uma mamada e outra – sentemos na frente do computador e busquemos transformar o sentimento em palavras, em registros. Mas não só os registros dos grandes eventos, das festas de aniversário, natal, férias, festas juninas (como nos álbuns de fotos). Os registros das coisas cotidianas, das coisas que deram errado, das descobertas, do primeiro-tudo da vida dos nossos filhos, e do primeiro-tudo das nossas vidas de mães. A história da minha filha é só dela. Eu sou apenas uma testemunha. A minha história, de uma mulher aprendendo a ser mãe, não qualquer uma, mas aprendendo a ser a mãe da Laura… bem, essa história está no blog, contada por mim, com a maior sinceridade possível. Pra um dia, quem sabe, se ela quiser, poder ler. E, sejamos francas, bem pode ser que ela não leia. O que, no final das contas, nem sei se faz diferença. Porque, enfim, existem vocês, leitoras da blogosfera materna. Interlocutoras virtuais com quem eu converso, como se conversasse com os meus diários. Leitoras que sustentam uma rede virtual que tem o imenso poder de estimular a confecção de uma grande colcha onde são bordadas, por cada blogueira, as histórias de nossas vidas, de uma geração de mães que encontrou uma forma de compartilhar a experiência materna, num mundo cada vez mais marcado pelo individualismo.

Isso é bonito, ou não é? Flavia, siga. Vamos seguir, juntas, até quando der.

11 Comments

  1. Que texto lindo, muito sensível e verdadeiro! E vc tinha razão, Flavia, eu me identifiquei muito com a escritora. Incrível como pessoas estranhas ao nosso cotidiana conseguem definir em palavras sentimentos nossos.

    Siga Flavia!

    Beijos,
    Nine

  2. Ai Fla, adorei esse post!

    vou passar lá pra conhecer a autora.

    bjo, bjo!

  3. Lindo o texto.
    E eu adiro a campanha:

    Flavia, siga!

  4. Adorei o post!
    Eu também costumava escrever diários e também outros divididos com algumas amigas. Conversávamos todo dia, mas parece que ali, escrito, era diferente. E assim registrávamos histórias e mais histórias…
    Só que, quando fui casar, rasguei e joguei tudo fora. Sei lá, essa coisas de reler e me achar bobinha. Joguei até meus cadernos com poesias, picotadas. E me arrependo de não ter guardado ao menos eles.
    Realmente, os blogs hoje, mais que diários, são um meio de troca muito gostoso com outras mães.
    Beijos.

  5. que delicia encontrar a mari aqui, sou fiel leitora (mas não comentarista… humpf) do muito secreto. é uma honestidade deliciosa…
    só digo que entre todas as crises blogsfericas que temos, é uma delicia ser parte do grupo de gente como vcs duas!!
    sim, permaneça dona flá!!!
    bjo

  6. Que texto maravilhoso! Diz muito do que eu penso e gostaria de dizer (apesar de não ter feito tantos diários na adolescência!). Adorei. Vou lá conhecer o Muito secreto.
    E eu faço coro: siga Flávia!
    bjos!
    Sarah
    http://maedobento.blogspot.com/

  7. Que delícia de texto! Me sinto contemplada, sabia? E tb sou mais próxima das amigas blogueiras que das de carne e osso. E é essa magia q me faz seguir adiante. Recebo olhares tortos e sou questionada sobre publicar minha vida, mas sigo pq só eu entendo o porque disso tudo. é a tal magia.

    vou correr lá no muitosecreto.

    beijo nas 2.

  8. e siga fla. pq vc faz parte da magia!

  9. Adorei o texto. E vou agora mesmo dar uma olhada no muitosecreto.
    Beijo.

  10. Que post maravilhoso! Adorei e fez recordar um tanto da minha adolescência. Também tinha diários, minha irmã também. Engraçado era ver meus irmãos querendo ler os nossos diários. Uma briga só!
    Esse espaço nada mais é do que um diário virtual. Comecei faz pouco tempo, mas estou adorando! Atualmente é o meu melhor amigo, já que a minha interlocução é praticamente com a minha escrita, com esse momento que destino para o blog. Quem sabe não começo a ter amigos virtuais, já que nesse momento meus amigos estão distantes daqui.
    Adorei seu comentário no meu post. Valeu! Um grande beijo.

  11. Eu sou fã do muito secreto e sou fã o Astronauta… fiquei muito feliz quando a Mari voltou a escrever no blog e fiquei feliz em ver o texto dela aqui…
    Favia, siga como a Mari seguiu! fará bem a vc e a nós que alem de leitoras do astronauta, somos essa rede que se constrói com palavras e experiências de cada uma.
    Bjs em vcs

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