Palavrinhas magicas

Esses dias escutei do pequeno um “biadu” (obrigado!) ao dar-lhe um prato com fruta cortadinha.
Não deu pra evitar, um sorriso de orelha a orelha e um beijo estalado e emocionado de “de nada filho”.
Foi legal porque primeiro ele falou em catalão, para logo corrigir e falar em português, mas alem dessa questão linguística, fiquei orgulhosa mesmo quando me dei conta de que ele agradeceu, porque vê que tanto eu quanto o pai dele sempre dizemos obrigada/gracies, quando um ou o outro traz o prato.
Desde que ele começou com a fase papagaio tagarela, (ou desde que ele repetiu alto e em bom tom, um “merda” dito por mim em um momento de raiva, comecei a ter muito mais cuidado com o que eu falo. Criança aprende por imitação – o bom e o ruim – e está muito mais atenta no que você fala e faz no dia a dia, do que no que você insiste em pedir que ela repita.
Depois desse “biadu” dito de forma totalmente espontânea, as “palavrinhas mágicas” (por favor, obrigada, saúde, licença, desculpa…) entraram de forma obrigatória no meu vocabulário diário e por mais delicioso que seja ouvi-las quero me esforçar para não dizer sempre: “como é que faaaaaaala?” quando ele recebe um presente e na empolgação de abri-lo esquece de dizer obrigado, nem nas reuniões com amigos estar atrás dele dizendo “por favor, né filho?” cada vez que ele for pedir algo e principalmente não obriga-lo a pedir desculpas (que não quer dizer não repreende-lo quando faz alguma coisa errada).
Sei que isso significa que, em algumas ocasiões, serei a mãe do menino mal educado que não pede por favor…
Mas não quero um filho, só “politicamente correto” que seja “bem educado” de forma obrigatória. Não quero que cada vez que ele tenha a ocasião de falar, eu me adiante e coloque as palavras na boca dele…. Quero que ele tenha espaço para sentir… Que ele esteja tão acostumado a ser agradecido e a ser tratado com gentileza e respeito, que sentir gratidão, ser gentil, reconhecer um erro e demonstrar arrependimento, sejam coisas naturais.
A gente aprende com nossos filhos, e na tentativa de influenciar positivamente, vou aprendendo que é menos estressante, pedir para ele: “você pode guardar os brinquedos por favor?”, aprendo que é gratificante dizer: “obrigada, meu amor” e ver os olhinhos dele brilharem, e também nos momentos que a paciência acaba (sim, tem momentos que a paciência acaba) ao dizer: “a mamãe não queria ter gritado com você. Desculpa filho!”, aprendemos juntos.
E na tentativa de ensina-lo a ser gentil, aprendo que só a gentileza gera gentileza, e que é delicioso sentir o poder dessas palavrinhas mágicas!
***
E como tudo está conectado (segundo minha cumadre Bel, neste post) encontrei esse texto que reforça ainda mais o que eu penso, e me inspira a ser a mãe que eu quero ser!
Enjoy!
AS “PALAVRAS MÁGICAS” PARTEM DO CORAÇÃO
por Jan Hunt, Psicóloga Diretora do “The Natural Child Project”

Na seção de cartas ao editor de um jornal local, uma missivista apresentou uma queixa comum: várias crianças esqueceram-se de dizer “obrigado” pelas lembranças de Halloween que ela deu. Ela ainda sugeria que as palavras são por si mesmas a forma mais importante de respeito e que se fosse preciso os pais deveriam arrancá-las à força dos filhos.

É natural magoar-se quando fazem pouco caso de nossa gentileza. Mas talvez devêssemos olhar mais longe, principalmente quando se trata de crianças.

A meu ver, há duas razões totalmente diferentes para uma criança dizer “obrigado”. Uma criança nos agradece porque apreciou autenticamente a nossa gentileza e já ouviu muitas expressões de gratidão em sua própria família (principalmente gratidão dirigida a ela).

Outra criança diz “obrigado” mas está simplesmente articulando palavras vazias, por medo do castigo. Uma atitude baseada no medo, sem a compreensão do sentido por trás do ritual, pouco vale. Essa atitude não só é desprovida de sentido como inútil, pois não atinge o objetivo desejado.

Com ameaças de castigo podemos forçar uma criança a dizer “obrigado”, mas não podemos impor a gentileza autêntica que desejamos. A verdadeira delicadeza se desenvolve em uma criança tratada com bondade. Ela não pode ser imposta ao seu coração, arrancando as palavras de sua boca. Além disso, onde está o prazer de se ouvir “as palavras mágicas” pronunciadas com submissão por uma criança amedrontada? Qualquer palavra perde sua magia se não partir do coração.

No dia das bruxas as crianças também se esforçam, escolhendo cuidadosamente sua nova identidade e fantasiando-se, depois andando uma hora ou mais.

Quantos de nós lembramos de dizer “obrigado por me mostrar sua fantasia”?

Mais do que uma questão de justiça, isso também é proveitoso porque a gentileza autêntica se desenvolve por imitação. As crianças aprendem a tratar os outros com delicadeza observando os adultos a sua volta fazerem gentilezas e recebendo explicações respeitosas sobre as razões das atitudes que preferimos. Em vez de reclamar da indelicadeza das crianças deveríamos lembrar que as crianças se comportam tão bem quanto são tratadas e tão bem como elas nos veem tratar uns aos outros.

24 Comments

  1. Tudo está conectadíssimo cumadre! Adorei o post, gosto muito da sua maneira de pensar e educar o petit, aprendemos todos juntos! Vou guardando os ensinamentos para quando chegue minha vez 😉

    Ah! obrigada, viu?

    Beijos miles,

    Bel

  2. Que textos lindos, o seu e o da psicóloga. Obrigado por fazer isso aqui 🙂
    Meu sonho é ser mãe!
    Leio sempre e é super inspirador!

    Um beijo!

  3. Que legal Flavia! Parabéns pelo filhote, que já está aprendendo a conviver com “urbanidade” (acho essa palavra esquisita, haha). Eu ainda só escuto os tetés da Ísis e me ocupo em criar diálogos inteiros entre nós duas…daqui a pouco vai ser de verdade…e com certeza também queremos que ela aprenda a gentileza porque é gentil, a delicadeza porque é delicada e a educação porque é educada! Adorei o texto da psicóloga! Beijos para a família!

  4. Bia

    Ai que lindo, e ainda aprendendo a falar as duas línguas, que amor!
    É tão bom ver estes pequenos crescendo!Eu sempre fui a tia chata que exigia as “palavrinhas mágicas” dos meus sobrinhos, será que serei assim com Arthur? :/
    Beijos!

  5. Que texto lindo, Flávia! E concordo contigo que as palavras mágicas devem ser espontâneas. Parabéns ao Astronauta também. hehe
    bjos

  6. Legal esse post, Flavia. Concordo totalmente com você e com a psicóloga que essas palavrinhas têm que vir do coração, a partir dos exemplos dentro de casa, e não podem ser ditos apenas da boca pra fora, por obrigação.
    Acho lindo quando a Luísa vira para a babá e fala: “Vera, você pega suco de uva pra mim, por favor?”. Ela fala naturalmente, porque aqui em casa todos pedimos por favor e agradecemos o tempo todo, sem forçar nada.
    Mas eu confesso que também insisto no “como é que se deve agradecer, filha?” quando ela ganha um presente ou coisa do gênero. Sei que eles ficam com vergonha de estranhos, mas procuro ensinar que ela tem que agir com educação sempre, não apenas quando ela quer, seja quando ela pede o suco para a babá ou quando ela ganha um pão de queijo da moça do supermercado. Às vezes ela não agradece, porque fica com vergonha, e aí eu não forço mais.
    Beijos

  7. Anonymous

    Tenho 2 filhos, um de 7 e outra de 4 e meio. Todos dois são bem educados, em casa sempre damos o exemplo de cortesia. Mas não basta só isso. Crianças PRECISAM de disciplina, imitam e quando perde a graça, param de faze-lo. E a unica maneira de ensinar a que sejam crianças educadas, é insistindo sempre para que usem as tais “palavras mágicas”.
    Algumas vezes coloquei o maior de castigo por não se desculpar com a irmã. E essa foi sem duvida a melhor maneira de ensina-lo.
    Toda essa lenga lenga de educar com amor basta, é tudo muito bonito, mas a pratica é muito diferente. E vejo diariamente crianças sem limites, mau educadas, e pais perdidos na educação dos filhos, pensando que passar a mão na cabeça é uma forma de amor, e um forma de educar.
    Com o tempo você vai ver que tenho razão.
    Sorte!

  8. Ai, Flá… você tem toda razão… e a “psi” tbm e a Bel querida mais ainda, né?
    Acho que gentileza gera gentileza… e que se não vier do coração, a gente esquece, e os pequenos tbm!
    Sabe que vou guardando todas as lições para quando a minha vez chegar…
    ***
    Conheci a Bel pelo seu blog e gosto tanto dela, sabia? Sempre estou lá no blog olhando, lendo, comentando… me faz muito bem!! Obrigada!
    ***
    Ahh, estou a cada melhor… me joguei no trabalho. Fui ao médico tbm, ele disse que está tudo bem comigo e que em julho posso começar de novo… fiquei tão feliz!
    A natureza é sábia minha amiga e como você mesmo disse, tudo vai dar certo.

    Beijo!

  9. Mariana Tezini

    Não dá mesmo pra impor educação, gentileza, como ela diz: fica sem sentido, na base da punição e do medo. E nós não queremos criar papagaios né Flá?
    Acho péssimo mandar a criança dizer obrigado, a palavra já diz tudo, é como se a criança respondesse: “estou sendo obrigado”
    beijão

  10. Fla,
    cada vez que passo por aqui levo algo de especial comigo. Acho que por isso gosto tanto do seu cantinho. Cada post é feito com tanto carinho e cada uma de nós temos sempre o privilegio de aprender com vc e com o seu astronauta.
    Beijos

  11. Fla, eu concordo com a Roberta. Adoro muito mais quando é espontâneo, claro, mas, às vezes ela se recusa a falar por algum motivo e aí eu pergunto mesmo. Porque acho que educação não é só questão de querer, de estar a fim na hora. É questão de tratar bem (até para ser bem tratado) aqueles que nos servem/ oferecem algo. Mas, quando a vergonha dela é muita, eu mesma agradeço e não falo mais no assunto.

  12. Realmente aprender como usaar as palavrinhas magicas, nao eh a tarefa facil. As vezes fico imaginando o que devo fazer quando a C for maiorzinha.

  13. adorei o post!
    eu naturalmente já fazia isso com criancas (de agradecer sempre, de pedir por favor etc) e já percebia que elas repetiam o comportamento comigo. Exemplo é tudo!

    beijos querida

  14. Lu

    Ei querida Flá,

    Concordo completamente. Gentilezas têm que ser aprendidas naturalmente e feitas com o coração.

    E desde que sei que o Nic anda prestando atenção em tudo o que falo, faço, nas minhas reações a diferentes situações, que venho me policiando. Mas não no sentido ruim, e sim procurando me aperfeiçoar como pessoa mesmo. Acho que esse é um dos grandes legados da maternidade, né? Nos melhoramos quando queremos dar o melhor exemplo pros nossos filhos…

    Beijo grande pra vc!

  15. Nossa, amei esse post. Essa semana André soltou um “obrigado” espontâneo e eu achei o máximo, fiquei toda orgulhosa!

  16. Eu faço assim: falo sempre, sempre, sempre “obrigada, por favor, bom dia, com licença” e o pequeno observa. Com isso, ele já cumprimenta o porteiro, dando sorrisinhos e tchau. Quando passa por ele e não faz isso, pergunto: “Não vai dar tcahau para ele hoje, não, filho?” Se ele somente esqueceu, dá o tchau, mas se está de mau humor, não dá e eu tb não obrigo. Mas acredito que, às vezes, com sutileza, sem impor nada, é bom mostrarmos que educação é hábito e repetição, mas sem matar a espontaneidade do gesto, é claro! Beijocas, estava com saudades! Amei o post! Muito pertinente!

  17. Oi, Flavia!
    Sei como se sente. Nesses dias a Nandinha recebeu a comidinha da minha mãe e disse assim: “Bigada vovó da comidinha. Huuum, ti delícia!” Eu fiquei alucinada de orgulho, me controlando para não gritar, agarrar e dizer que ela é a coisa mais linda do mundo, hehehehe. Apenas fiquei quieta, achando lindo e me sentindo feliz porque pareceu que ela entendeu direitinho o sentido da coisa. E o “da” comidinha foi engraçado, já que está no lugar do 'pela', né?
    Um beijão pra você e muitos chamegos no nosso educado e gentil Astronauta, com certeza!

  18. Flavia, exemplo é tudo. Mariana pede licença “chencha” até para o cachorro quando quer passar. É um misto de ouvir a gente e de ensinarmos mesmo. Nem me preocupo tanto porque acho que tendo bons exemplos em casa ela vai acabar se acostumando a segui-los.
    beijos

  19. Pois é, Flá. Eles aprendem mesmo com a gente, né? Sabe que tento me policiar, mas às vezes solto um merda, mesmo que sussurante. E dia desses o ouvi falando bem baixinho: “merda, merda, merda”. Confesso que achei engraçadinho, mas fiz de conta que não ouvi, para não reforçar. Negócio mesmo é me esforçar com as palavras e ações gentis. E lembrar de dizer: obrigado, filho, por me ensinar tanto.
    Beijos e saudade de passar por aqui!

  20. Adorei seu texto, a maneira como colocou o que pensa e como incentiva que isso aconteça dentro de casa.
    Concordo plenamente com o texto “palavras mágicas” quando cita que palavras vazias não geram o mesmo tipo de sentimento. Que estas palavras vindas por submissão ou medo não tem o mesmo significado, e com certeza não educam e não transformam uma criança num adulto gentil.

    Aproveito para dizer que A-D-O-R-O seu blog, absolutamente tudo nele. O que escreve é maravilhoso, e tanto layout quanto fotos não deixam em nada a desejar.

    Aliás seu blog foi um dos que me inspirou a criar o meu próprio, que ainda é novinho mas espero que cresça e apareça!

    Beijos

    Karen

  21. Anonymous

    Não posso negar que quando li seu post escorreu algumas lágrima de meus olhos, pois sofro pelo meu filho de 2 anos, pois minha esposa obriga ele a pedir licença, mesmo em casos absurdos como quando o pai dela puxa um objeto da mão do meu filho, ai meu filho que pegar de volta com a mesma intensidade, é quando ele é repreendido pela mãe. Obrigado pelas palavras. Peço sua permissão para copiar e enviar por email aos meus amigos, inclusive à minha esposa, espero muito que ela mude depois que ler.

  22. Obrigado a você pelo comentário carinhoso.
    Pode ficar a vontade pra repassar o texto.

    Boa sorte

    um abraço

    Flavia

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  1. Que tipo de mãe você quer ser? « bossamae

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