Post VIP: By Roberta, mãe do Noah do blog Piscar de Olhos
Eu tenho algumas manias que me acompanham desde sempre: eu evito pisar nas partes pretas da calçada de Copacabana, começo a comer a coxinha pela ponta e faço xixi de pernas cruzadas.
E como mania é um troço que vai se alastrando com a idade, eu arrumei mais uma: dei pra querer prever o futuro de filho e filha de blogueira.
Prever o futuro de filho alheio não é pra qualquer um e requer certo empenho: você lê o blog da mãe da criança, analisa o comportamento e as habilidades da cria, pensa nisso com relativa frequência, amadurece a idéia e tira suas conclusões: “esse quando crescer vai ser escritor/advogado/médico/comunista/drag queen.”
Parece fácil, mas requer técnica. Técnica e um ou dois parafusos a menos.
Do João – O Astronauta, eu sempre, desde o início, pensei: aposta quanto que ele vai acabar virando um astronauta famoso e o blog da Flávia vai aparecer no Fantástico?
Juro que eu imagino o João indo passear em Vênus. Daí, se me dão corda, eu ainda vou mais longe e imagino todos os televisores do mundo ligados para testemunhar o João pisando naquele planeta esquisito pela primeira vez.
Maracanã lotado, transmissão ao vivo, pelo telão.
O estádio vai a loucura “Jo-ão Jo-ão Jo-ão” .
E a galera tem até hino:
Carmen Miranda nasceu em Portugal
Mas quem diz que ela não era brasileira?
E o João, que adora samba e o carnaval!
Dizer que ele é espanhol é brincadeira!
Enquanto isso, em Barcelona, ao vivo da Plaza Catalunya, a multidão enlouquece e orgulhosamente veste uma camisa com a foto do Astronauta, onde se lê: “Vênus – A Catalunya chegou lá primeiro”.
O super papa enxuga as lágrimas e se junta à multidão. Numa mão a fotografia do João vestindo a camisa do Barça. Com a outra mão ele segura o braço de uma elegante e orgulhosa mamãe, que, se debulhando em lágrimas, conversa com um jornalista da BBC.
– Mas de onde surgiu a idéia dele, de virar um astronauta? – pergunta o repórter.
– Ah..sempre foi o sonho o João – responde a mãe do Astronauta. Sei lá…com 5 anos ele viu meu blog e disse “Mamãe. Eu vou ser um astronauta”.
E o jornalista se arrepia todo ao saber que a mãe do astronauta tem um blog que existe desde que João era bebê. E que referido blog se chama – OH-MY-GOD- O Astronauta.
Corta pro João em Vênus. Ele se prepara para descer da aeronave. 5…4….3….2…
E ele desce com um violão na mão, sorri para a câmera e canta…
plunct-plact-zum,
não vai a lugar nenhum…
E o Maracanã vai abaixo.
João, todo emocionado, diz:
– Eu gostaria de mandar um beijo pro meu pai e pra minha mãe. Eu amo muito vocês. Mamãe, você é minha inspiração, sempre. Ah! Queria aproveitar para mandar um abração pro Noah, meu primo de grau I (no futuro, assim que serão chamadas pessoas que se conhecem somente pela Internet). Noah, você é o melhor primo cybernético que alguém poderia ter.
(que foi, gente? se o sonho é MEU então o João pode mandar um abraço pra quem EU quiser, dá licença?)
***
E falando em sonho: poucos dias depois de Noah nascer, há 19 meses atrás, eu tive um sonho muito louco. Eu sonhei que Noah era tipo um Messias, sei lá, o cara prometido e tal. E que havia uma organização mega mafiosa de olho nele.
Ainda na maternidade, essa máfia invadiu meu quarto enquanto eu dormia e introduziu um chip em formato de ameba dentro da minha cabeça. O chip-ameba permitiria que os mafiosos soubessem sempre do meu paradeiro, assim eles nunca perderiam o Messias de vista.
Perceba que sonho de mãe é mártir de essência, né? Porque, cá entre nós, se era ELE o tal Messias porque raios que a ameba tinha que vir parar na MINHA cabeça e não não dele, hein pessoal da máfia?
***
Tá, mas agora vamos ao que interessa. Quando tive a honra de saber que ia dar pitaco aqui na casa da Flávia queria falar sobre algo que soasse familiar a todas as mães. Mas daí Noah ficou doente e eu chutei o computador, e fiquei 5 dias com o filhote no colo. O bichinho não saia do meu colo nem pra vomitar.
Mas ontem à tarde, do nada, ele sarou. Ficou com uma fome de leão e saiu do banho cantando “do leme ao pontal”. E quando ele canta Tim Maia é porque ele está realmente feliz.
Hoje de manhã estava ótimo: comeu caqui, comeu pão e tomou suco laranja. Assistiu Cocoricó. Dançou e escondeu minhas panelas embaixo do sofá. Pensei: vou levá-lo um pouquinho à escola, assim posso tomar um banho demorado (aquele que eu não tomo direito há 6 dias), posso trabalhar e escrever um pouco.
E daí adivinha quem apareceu sem ser chamada?
Ela. A ameba maldita. A culpa.
Isso mesmo, gente bonita. Eu descobri que a tal ameba do sonho nada mais é do que pura e simples culpa. Culpa essa que é introduzida na sua cabecinha assim que a cria nasce, lá na maternidade.
“Ah, mas eu pari em casa.”
Não importa. A máfia enfiadora da ameba sabe muito bem onde você mora.
“Mas então porque que meu marido não sente tanta culpa quanto eu? Não colocaram a ameba na cabeça dele também?”
Não, darling, não colocaram a ameba na cabeça do seu marido. E ainda que tivessem colocado, homem tem corpo fechado pra culpa desnecessária. Culpa é artigo feminino, que desce junto com a sua primeira menstruação.
***
Posso escrever sobre culpa, então?
O tema é batido, eu sei. Mas outro dia, caras leitoras do Astronauta, tomada por descabida culpa por deixar Noah na escola enquanto assistíamos ao primeiro jogo da copa, eu compus o Melô da Mãe na Copa:
A culpa do mundo é nossa
Culpa de Mãe, é uma bosta
Tem culpa porque trabalha
Quando desmama
Quando desfralda
O drama inteiro começou aqui. Mas no final das contas, maridão e eu decidimos deixá-lo brincando na escola e, durante o primeiro tempo do jogo, batemos um bolão assistimos a partida sem interrupções.
Termina o primeiro tempo e a amebenta aqui tem a seguinte idéia:
– Amor, vamos aproveitar o intervalo pra ir tirar uma fotinho do Noah na escola? Ele tá com a roupinha de copa do mundo e eles iam assistir o jogo no pátio. Muito fofo, bora lá?
(a escola fica 2 minutos a pé da minha casa.)
– Ah, não.
– Ah, vamos, vai, rapidinho!
– Não, amor. A gente tira foto dele a noite, aqui em casa.
– Aqui em casa os amiguinhos e as professoras dele não vão sair na foto, né François?
(quando mulher chama pelo nome é melhor concordar, viu João Astronauta?)
– Bom, beleza. Mas não deixa ele te ver, senão já viu. E é tirar a foto e voltar correndo pro 2o. tempo, tá bom?
Então nós fomos. De longe eu vi as crianças reunidas assistindo o jogo. Então eu pedi que uma das funcionárias da escola tirasse uma foto. Ela volta com a câmera e diz que ele saiu meio chorandinho na foto.
– Mas eu vi ele rindo e brincando, como assim saiu meio chorandinho?
– Das duas uma, ela disse. Ou foi porque ele viu a mãe do amigo vindo buscá-lo ou ele ouviu sua voz.
Era o que faltava para acionar o chip-ameba da mamãe aqui.
Agora presta atenção no dilema da criatura-mãe: de um lado a cria chorando; do outro, o marido me puxando pelo braço e me olhando com cara de “nem pense nisso”.
***
Resultado: Noah veio pra casa com a gente. Contrariando o maridão, o meu bom senso e todos os conselhos sensatos de quem comentou meu post, eu carreguei a cria pra casa e perdi os dois gols do Brasil.
Logo eu, que ao ler os comentários de outras mães amebentas sobre suas próprias culpas, me enchi de compaixão, balancei a cabeça e pensei “ameba filha de uma puta”.
Mas sabe o que acontece? A minha ameba cerebral é tão, mas tão sofisticada, que num momento de impasse desse, ela me roda um filminho na cabeça, só pra provar que está certa.
Isso mesmo. Na hora da decisão em deixá-lo ou não na escola, eu paro, fecho os olhos e eis que me vem o seguinte filme na cabeça:
Noah, sentado no sofá com a namorada, daqui uns 40 20 anos. Começa o jogo, ele agarra a namorada e diz:
“Sabe que toda vez que começa um jogo de futebol me dá um vazio, um medo…Me abraça?”
E a namorada então diz:
“Xiiiiii, isso deve ser algum trauma que aquela maluca da tua mãe te colocou.”
Porque além de lidar com amebas-produtoras-de-filmes-cerebrais-culpentos a pessoa, ainda por cima, um dia vai virar SOGRA. Sim, sogra! Vulgo aquela-que-deixou-seu-marido-cheio-de-traumas-e-manias.
E eu pergunto: isso lá é um mundo saudável pra se viver, dona ameba?
***
Obrigada, querida astro-mamis, sou sua fã incondicional (mas disso você já sabe). Fico torcendo pra você passar por aqui e a gente bater papo pessoalmente e tirar muitas fotos do João e do Noah. Que depois que o João for pra Vênus vai ficar mega difícil da gente tomar aquele café, né não?
Bom, deixa eu ir. Não quero que vocês pensem que eu sou daquelas visitas inconvenientes, que não sabem a hora de ir embora
Além do que, preciso ir buscar o pequeno na escola.
Que a dona ameba já me sussurrou que tem filme inédito em cartaz. O filme conta a história dessa mãe perversa e ingrata, que deixa o filho na escola pra tomar banho demorado, trabalhar e escrever. Ele cresce e nunca mais se recupera do trauma: vive na sarjeta, rasga dinheiro e trabalha como gigolô.
Em breve. Em um cinema próximo de você.
Depois desse post SENSACIONAL, só posso dizer uma coisa, se você ainda nao conhece o blog dela nao sabe o que está perdendo.
E obrigada Ro, AMEI!