Havia um tempo em que eu discutia fervorosamente sobre partos e sobre o direito da mulher de ter o parto QUE DESEJA (!), e escutava frequentemente que minha opinião “não contava” já que tinha parido fora do Brasil…
E fora do Brasil, claro! A realidade é outra.
Não cabia nessas discussões explicar que Espanha não é Finlândia, e que a realidade na Espanha, infelizmente, esta longe do ideal*, talvez uma das grandes diferenças entre Brasil e Espanha, (dois países com altos índices de cesáreas e intervenções desnecessárias) seja que no Brasil quase todo mundo têm plano de saúde e na Espanha a grande maioria ainda recorre ao sistema público. (e tanto na Espanha quanto no Brasil o índice de cesárea e intervenções desnecessárias é muito mais elevado no sistema privado.)
Buscando estatísticas de tipos de parto na Espanha, pude perceber que não existe um dado exato, já que oscila muito dependendo da comunidade autônoma, do ano da estatística e do interesse da pesquisa. Mas a media se resume, mais ou menos assim:
Índice de cesárea:
Sistema publico – 22,41% (no Brasil a média é de 26%)
Sistema privado – 58,91% (no Brasil, 80%… )
Recomendação OMS – De 10 a 15%
Indução do parto – nos partos normais – (ocitocina e similares)
Sistema publico – 26,37%
Sistema privado – 48,35%
Recomendação OMS – 10%
Parto instrumental (fórceps)
Sistema publico – 12,40%
Sistema privado – 32,68%
Epsiotomia
Não encontrei dados separados do sistema publico x privado, mas na Espanha o índice de epsiotomia é elevadíssimo, de 82,9% muito parecido com os numeros do Brasil.
A OMS declara que não está justificado o uso sistemático da epsiotomia e que se deve proteger o períneo sempre que possível.
Com esses poucos dados dá pra perceber que a Espanha, (embora haja um movimento forte em pró dos partos humanizados) ainda está longe de oferecer um parto tal como é recomendado pela Organização Mundial da Saúde.
E apesar dos melhores índices de parto vaginal e sem intervenções no sistema publico, poucas maternidades oferecem um espaço confortável para a dilatação (menos ainda para o parto), anulando quase sempre o direito da mulher de DECIDIR livremente a posição durante o expulsivo.
E mesmo os poucos centros (públicos) que contam com quarto adequado para dilatação, e que em teoria favorece o parto natural hospitalário, quase sempre limitam os acompanhantes (o que te obriga a escolher entre o marido e a doula – caso você decida ter uma -), entre outras inconveniencias.
O grande problema na Espanha (na minha opinião) é que a forma de parir no sistema publico, é uma caixinha de surpresas, não depende somente da vontade da mulher por ter o parto que deseja (seja ele qual for) depende também dos profissionais de plantão na hora do parto.
Se a mulher quer um parto normal com anestesia (e suas possíveis consequências), talvez não precise brigar muito por isso, já que é o parto padrão. Mas se a mulher escolhe ter um parto normal, com o mínimo de intervenções possíveis, ela tem que ter a sorte de que na hora do parto tenha profissionais simpatizantes com a causa, ou se não, lutar muito por isso… O que é uma baita injustiça porque tira o DIREITO dela de se desconectar totalmente do mundo e conectar-se consigo mesma no momento do parto (e acredito que essa conexão é um elemento fundamental para o sucesso do parto).
A estatística para partos domiciliares na Espanha é de aproximadamente 1,5% dos casos…
saber dessa estatística só me faz sentir imensamente privilegiada por fazer parte dessa minoria.
Saiba como funciona o parto em outros países, acessando o site: mães internacionais